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Artigo Científico: Existe um consumo saudável de vinho?

O etanol é uma substância tóxica que precisa ser degradada pelo organismo. Por isso, o consumo de bebidas alcoólicas em altas doses é tão prejudicial e é de consenso que gera diversas consequências para a saúde.

Podem ser momentâneas após o consumo, como a desidratação e o desnorteamento; ou crônicas, como a doença hepática alcoólica. Por ser uma substância entorpecente também está associada com o agravamento de comportamentos de risco (2).

No entanto, quando o assunto é vinho, sempre parece haver uma sutil diferença em como o assunto é abordado, não é? 

No texto de hoje, leia o resumo de uma revisão da literatura sobre os impactos do consumo de vinho para a saúde e saiba o que a ciência tem a dizer sobre isso.

Introdução 

Toda a literatura científica deixa claro o posicionamento de que o abuso de consumo de bebidas alcoólicas causa grandes danos para a saúde. 

Porém, alguns estudos epidemiológicos apontam o consumo moderado de álcool, em particular de vinho, como um fator protetor. 

As associações entre tipo e dose de bebida alcoólica com o risco de determinadas doenças foram reavaliadas nesta revisão, assim como as diferenças entre vinho e outras bebidas alcoólicas. 

Metodologia 

Busca em base de dados por artigos publicados entre 2010 e 2022. Foram identificados 1867 artigos e apenas 24 foram selecionados por preencherem os critérios de inclusão necessários. 

Resultados 

  • Perfil fenólico do vinho e seus compostos bioativos

O vinho contém diversos compostos bioativos. O resveratrol, classificado no grupo dos estilbenos, é um dos mais estudados. O seu nível é alterado pelo tipo e variedade da uva, assim como as suas condições de cultivo. 

Quanto maior for a concentração de resveratrol nas uvas, maior será no vinho. Em geral, estará mais presente em uvas vermelhas, cultivadas em clima mais frio e em posição alta geograficamente. A maior concentração de resveratrol, de acordo com a literatura, é de 36 mg/L. 

​​Porém, o resveratrol não é o único composto capaz ou responsável pelos benefícios associados ao consumo moderado de vinho, os efeitos devem ser atribuídos ao conjunto dos compostos antioxidantes presentes e toda a sua complexidade e potencialidade de ação. 

O vinho também apresenta teor significante de outros compostos fenólicos. A concentração no vinho de quercetina, um flavonoide, é de aproximadamente 50 mg/L. O mesmo é conhecido por reduzir a inflamação, inibir NF-kB e reduzir a expressão de TLR2 e TLR4.

Outros compostos devem ser explanados com maior profundidade, como os taninos, ácidos fenólicos e flavonoides. Já há estudos que demonstram participação de quercetina, catequina, epicatequina e outros como protetores contra fatores oxidativos e atuantes na regulação de enzimas como glutationa-s-transferase (GST), glutationa reduzida (GSH), heme oxigenase I (HO-1) e superóxido dismutase (SOD). 

  • Dados epidemiológicos para o consumo baixo/moderado de vinho em: 
    1. Doenças cardiovasculares (DCV): o vinho tem demonstrado superioridade em comparação ao consumo de outras bebidas alcóolicas. Há evidências epidemiológicas que indicam que não há razão para os que bebem vinho com moderação (até 15g/dia) parem de beber. Não há indicação que abstêmios devem começar a beber álcool para a prevenção de DCV,
    2. Diabetes tipo 2 (DM2): há indícios de que o vinho tinto protege contra o DM2 e está associado à melhora da sensibilidade à insulina, quando há consumo moderado (150ml/dia). Resultados deletérios foram observados em quantidade de álcool > 50-60 g/dia.
    3. Doenças Neurodegenerativas: o consumo excessivo e crônico de álcool está associado com a ativação de processos neurodegenerativos. Em estudos prospectivos, o consumo de vinho foi associado com a redução do risco para demência, Alzheimer e derrame.
    4. Câncer: há aumento do risco com o consumo de álcool, principalmente do câncer de cabeça e pescoço, esôfago, fígado, mama, cólon e reto. O risco está relacionado à dose, com aumento para ingestão de álcool > 30 g/dia. Para a prevenção do câncer, álcool não deve ser uma substância consumida com regularidade. 
    5. Longevidade: há efeito protetor na ingestão média de 20 g de álcool por dia. Segundo os estudos, os efeitos benéficos, atribuídos ao resveratrol, da ingestão moderada de álcool são maiores do que a abstinência completa, mas são perdidos quando o consumo é excessivo.
  • Estilo de vida mediterrâneo e o vinho 

Na dieta mediterrânea é um padrão alimentar associado como protetor para diversas condições de saúde, apresenta um grande consumo de alimentos vegetais, azeite de oliva e um consumo baixo/moderado de alimentos de origem animal e de bebidas como o vinho. 

Os benefícios associados a esse padrão alimentar são atribuídos ao alto nível de consumo de compostos bioativos, fibras, gorduras mono e polinsaturadas. Quanto ao consumo de vinho, há um limite, que pode variar em cada país, de até 30g de álcool para homens e 15g para mulheres; duas ou uma taça de vinho, respectivamente.

Conclusão

O vinho é uma substância complexa, rica em compostos bioativos, os quais apresentam propriedades protetoras. Por isso, estuda-se a associação positiva existente entre o consumo baixo e moderado de vinho e proteção para doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e distúrbios neurológicos.

Os componentes bioativos não são a única explicação dos efeitos benéficos demonstrados em estudos epidemiológicos, há fortes fatores sociais associados ao consumo de vinho. 

Na dieta mediterrânea, por exemplo, o consumo de vinho ocorre durante as refeições, quando há presença de alimentos no estômago existe um retardo da absorção de etanol, auxiliando no metabolismo e degradação do mesmo. 

O estudo em questão apresenta limitações, tanto aos possíveis vieses nos estudos encontrados, quanto em avaliações individuais que são necessárias para estabelecer níveis seguros para o consumo de álcool. 

Por fim, profissionais de saúde não devem recomendar o consumo de álcool, pois pesquisas adicionais ainda precisam ser realizadas para mais esclarecimentos. Todas as ações devem focar em promover educação comportamental para prevenir abuso de substâncias. 

Confira o artigo na íntegra aqui: https://www.mdpi.com/2072-6643/15/1/175  

Até mais,

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