Segundo o Calendário Nacional da Saúde, de 23 a 29 de junho devem ser realizadas campanhas de conscientização sobre as alergias. Aproveitando o tema, trouxemos o resumo de um posicionamento sobre alergias alimentares, recentemente publicado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria.
Sendo a alimentação parte essencial de nossas vidas, pessoas com alergias alimentares encaram diariamente um grande desafio. Por isso, é importante que cada vez mais os profissionais da saúde se aprimorem no assunto, promovendo diagnósticos mais precoces, tratamento mais efetivos e estratégias mais eficazes de prevenção.
Alergia alimentar (AA) é uma condição clínica na qual o sistema imunológico responde, a partir da exposição, de forma exagerada e consistente a um alimento específico. As alergias, em geral, tem início ainda na infância e as suas manifestações clínicas são variadas.
Compreender a diferença entre alergia e intolerância alimentar é fundamental, pois a intolerância é uma resposta adversa que não envolve o sistema imunológico. Já as alergias são classificadas a partir do mecanismo imunológico envolvido: imediata/IgE mediada, tardia/não mediada por IgE, ou mista. Portanto, o que distingue a AA de outras reações adversas a alimentos é a sua natureza imunológica.
O sistema imunológico intestinal interage com proteínas a todo tempo e é naturalmente estimulado ao desenvolvimento de tolerância oral. Na resposta normal, com a tolerância, existe a produção de imunoglobulina A (IgA) e imunoglobulina G (IgG), mas essas não desencadeiam reações adversas. Já na resposta adversa, a falha imunológica gera a produção da imunoglobulina E (IgE), ou outros agentes imunológicos.

São chamados de alérgenos os alimentos com potencial de desencadear reações alérgicas, os principais são: leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar. Mas, alimentos como frutas e sementes também têm causado alerta.
Nos últimos anos houve um aumento no número de casos diagnosticados, além de uma maior procura sobre o tema, tanto por profissionais da saúde, quanto da própria população. Ampliou-se também o conhecimento sobre os alimentos que apresentam potencial alergênico.
Sendo o nutricionista um dos principais profissionais responsáveis por promover segurança alimentar e nutricional, torna-se essencial que tenham conhecimento sobre essa área; mesmo que introdutório, para saber identificar sintomas e encaminhar a um profissional especializado.
Prevenção:
No posicionamento publicado houve grande destaque sobre a maneira adequada de realizar a introdução alimentar de alimentos potencialmente alergênicos. Segundo o material, essa é uma conduta para minimizar o risco de alergias alimentares, além do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do bebê. Os primeiros 1000 dias também foram citados como críticos para aumentar ou reduzir a predisposição de desenvolver alergias.
A presença abundante de lactobacilos e bifidobactérias na microbiota intestinal apresenta ser um fator de proteção/prevenção no desenvolvimento de alergias em geral, isso acontece pela capacidade dessas bactérias de inibir respostas mediadas por T helper 2, ou seja, do tipo Th2. Já Clostridium difficile e Staphylococcus aureus foram associadas com maior hipersensibilidade alimentar.

Diagnóstico:
Quando existe alergia alimentar, assim como outras, os sintomas se iniciam ainda nos primeiros anos de vida. A depender da gravidade, a mesma pode ser desencadeada por traços de alimentos, ou até mesmo a inalação de partículas.
A primeira etapa diagnóstica é clínica, com anamnese detalhada e exame físico, sempre realizada por um médico. O próprio posicionamento dispõe de quadros com a descrição detalhada das principais reações para auxiliar no diagnóstico.

Existem testes diagnósticos bem consolidados, como apresentados no quadro acima. No entanto, muitos testes sem evidência científica estão sendo realizados e gerado restrições alimentares desnecessárias. São eles: dosagem de IgG, análise capilar, teste citotóxica, cinesiologia, iridologia, biorressonância e análises genéticas.
Tratamento:
A imunoterapia oral tem sido reconhecida como uma abordagem cada vez mais promissora, principalmente para alergias mediadas por IgE a alimentos como leite, ovo e amendoim.
Atualmente muitos pacientes apresentam sintomas consideráveis até a adolescência, sendo que antes a maioria entrava em remissão por volta dos 7 anos de idade. Esse é um indicativo de que o tratamento tem sido cada vez mais longo.
A dessensibilização oral é uma conduta muito comum por médicos, pois melhora muito a qualidade de vida do paciente. No entanto, é importante destacar que isso não significa cura da alergia alimentar.
Quanto a conduta nutricional falaremos melhor no próximo texto, mas é importante destacar que o novo posicionamento enfatizou a importância da educação nutricional para evitar restrições desnecessárias, principalmente durante a infância.
Como as alergias alimentares se iniciam, em geral, ainda na infância, muitos pais evitam ofertar alimentos considerados alergênicos com o intuito de prevenir tais questões, mas esse não é o melhor caminho. Além de possíveis prejuízos nutricionais, restrições alimentares não orientadas podem gerar impactos sociais e psicológicos.
Em breve falaremos mais sobre o tratamento nutricional adequado nos principais casos de alergias alimentares. Acesse o posicionamento na íntegra: https://asbairj.org.br/atualizacao-em-alergia-alimentar-2025-asbai-e-sbp/
Até mais!