O nutricionista, principalmente na área clínica em consultório e/ou ambulatório, atualmente se depara com um contexto crescente dos quadros de obesidade e doenças crônicas, que acontecem concomitantemente a um aumento da preocupação excessiva, por uma parcela da população, com o peso e composição corporal.
E na busca imediatista por um corpo magro, muitas pessoas buscam antes do atendimento com profissional habilitado, informações em sites e blogs não científicos, os quais reforçam o padrão de maciça valorização da magreza, tornando a gordura um símbolo de fracasso moral e algo socialmente indesejável.
Entretanto, são inúmeras dietas publicadas por sites e blogs não científicos com restrições calóricas expressivas e consequentemente inadequadas no fornecimento de micronutrientes utilizados em diversas reações metabólicas vitais.
Vale ao profissional nutricionista além do estudo da ciência da nutrição, pautar suas condutas nas recomendações vigentes e se inteirar das dietas da moda, para ter respaldo científico no momento de desmistificar informações inadequadas que podem estar sendo veiculadas na mídia.
Assim, para auxiliar em sua prática clínica trouxemos os dados de um estudo realizado em Minas Gerais e publicado em 2019 que avaliou a composição de dietas da moda publicadas em sites e blogs não científicos, estas eram segmentadas em dietas que seguiam o jejum intermitente, dietas com restrição de carboidratos e dietas isentas de glúten.
Estudo Analisa as Dietas da Moda
O estudo: pesquisadores analisaram cardápios disponíveis em sites e blogs, de acordo com o teor de carboidratos, fibras, proteínas, lipídios, iodo, sódio, cálcio, magnésio, ferro, zinco, manganês, potássio, fósforo, cobre, selênio, vitaminas A, C, B6, B12, D, niacina e folato, e os valores de nutrientes foram comparados com as recomendações da Ingestão Dietética de Referência (DRI) para mulheres com idade entre 19 e 50 anos.
O percentual de adequação dos macronutrientes foi baseado em uma dieta de 2.000kcal para indivíduos saudáveis, segundo a Organização Mundial de Saúde, correspondendo a aproximadamente 60% de carboidratos ou 1.200kcal (300g), 15% de proteínas ou 300kcal (75g) e 25% de lipídios ou 500kcal (56g).
Foram consideradas dietas com alto teor de restrição calórica, dietas que preconizavam o consumo diário entre 800 a 1200 kcal e uma dieta com restrição leve com consumo de 1200kcal. Os valores calóricos obtidos dos cardápios e avaliados estavam entre 229 kcal – 869 kcal para dietas que sugeriam o jejum intermitente, dietas low carb em torno de 622 – 1560 kcal e dietas com restrição de glúten 877 – 1750 kcal.
Conclusões do Estudo
Valores de carboidratos e fibras estavam aquém do recomendado. Já com relação aos micronutrientes, analisados nos três tipos de dietas (Sódio, Magnésio, Zinco, Manganês, Potássio e Cobre), esses estavam menores que a DRI.
Sabemos que a deficiência de sódio e potássio causam desequilíbrio hidroeletrolítico e disfunções celulares; a deficiência de iodo provoca alterações cognitivas, bócio e hipotiroidismo; a deficiência de magnésio causa distúrbios neurológicos, cardiovasculares e gastrointestinais; a deficiência de zinco reduz a função imunológica; a deficiência de manganês leva a neurodegeneração e; a deficiência de cobre causa anemia, alterações no sistema imunológico e na fertilidade.
Já os minerais Cálcio, Fósforo, Ferro e Selênio foram superiores a 100% nos cardápios livres de glúten, e Fósforo e Selênio foram maiores na dieta pobre em carboidratos.
A deficiência mineral e das vitaminas B6 e B12 esteve presente na dieta de jejum intermitente devido à ausência de ingestão alimentar em longo prazo, pois o indivíduo só faz duas refeições em um intervalo de 24 horas.
Vale mencionar que a deficiência de vitamina B12 pode aumentar o risco de falha na gravidez, comprometimento cognitivo, osteopenia, doença oclusiva vascular – provavelmente devido ao acúmulo de homocisteína.
Nas dietas que propunham o jejum intermitente e restrição de glúten houve excesso de vitamina C, que pode causar diarreia, excreção urinária de oxalato e formação de cálculo renal.
Em todas as três modalidades de dietas analisadas houve deficiência no fornecimento de vitamina D e B9, que podem causar, respectivamente, distúrbios ósseos e raquitismo, anemia megaloblástica, malformação congênita e doenças cardiovasculares.
Vitaminas C e B3 estavam deficientes na dieta pobre em carboidratos. A deficiência de vitamina C está associada a doenças neurodegenerativas, incluindo Doença de Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e lateral amiotrófica.
A vitamina A estava acima dos níveis recomendados e esse excesso pode causar perda de cabelo, visão dupla, vômitos, dores de cabeça e danos ao fígado e aos ossos.
Ainda, vale sempre lembrarmos aos pacientes/clientes que dietas com alta restrição calórica são ineficientes para perda de peso a longo prazo e que dietas deficientes em micronutrientes, promovem efeitos nutricionais e emocionais desfavoráveis.
O nutricionista, assim, deverá estar sempre disposto a esclarecer que dietas altamente restritivas, promovidas pelas mídias sociais podem contribuir para o aumento de doenças por deficiência nutricional e transtornos alimentares, uma vez que tanto os macronutrientes quanto os micronutrientes estão deficientes nessas dietas.
Referência
Braga DCA, Coletro HN, Freitas MT. Composição nutricional de dietas da moda publicadas em sites e blogs. Rev Nutr. 2019; 32: e170190. http://dx.doi.org/10.1590/1678-9865201932e170190